Sou um tremendo fã de Moebius — nascido Jean Giraud, em 1938, quadrinista, ilustrador, artista, diretor de arte, concept artist, filósofo e psicólogo de massa, morrido nesse sábado passado, 10 de março de 2012, dotado de múltiplos pseudônimos, vasta bibliografia, aparições e influências.
Para não ficar no laudatório, cito apenas o que Fellini tinha a dizer dele:
“Ele é um talento único, dotado com uma imaginação visionária extraordinária que constantemente se renova e não é vulgar. Moebius perturba e consola. Ele tem a habilidade de nos transportar para mundos desconhecidos onde encontramos personagens desconcertantes. Minha admiração por ele é total. Considero ele um grande artista, tão grande quanto Picasso e Matisse.”
(E isso não é nota de obituário, Fellini morreu antes de Moebius…)
Acho que Moebius morre em um momento em que o mundo encontra-se em uma encruzilhada: mais como ele aparecerão, promovendo uma mudança tão necessária? Ou vamos afundar definitivamente em uma cultura de deveres, “seriedade”, ideologia, egomania e perdição das certezas cotidianas?
De vez em quando, me parece que todas as explosões de criatividade dos últimos 50 anos foram gradualmente cooptadas por uma “realidade padrão” que pasteuriza a mudança, efetivamente a impedindo, ou sumprimindo-a em infinitas “revoluções”, mais e mais voltas na roda da fortuna…
Outras vezes, acho que vamos no caminho a uma mudança paradigmática, que valoriza o auto-conhecimento, e a vida como um todo, não apenas aquilo que reconhecemos como “realidade consensual”.
(E, é claro, as coisas não são tão polarizadas assim… Os caminhos são sempre múltiplos, somos nós que achamos saber o que se passa! Já diria Moebius…)
Quando moleque, imitava o estilo de Moebius, sem nunca chegar ao que ele fazia. Deixei de querer ser quadrinista quando percebi que minha paixão estava em construir o ambiente, enquanto o exemplo de Moebius me mostrava que o grande artista é, antes de tudo, um “psiconauta”, de hábito e pena.
Adeus, Moebius. Que você encontre o caminho de volta logo!