O prof. Túlio Marin e eu estamos coordenando um curso de extensão na FAAP que trata da Programação de Computadores como ferramenta de expressão para Designers e Artistas.
Você pode encontrar mais informações aqui.
(O início da primeira turma foi adiado para agosto de 2011 – aguardem mais informações…)
A proposta é ensinar técnicas de programação para que Designers, Artistas, Arquitetos, Músicos, Pintores, Escultores, etc., possam utilizar o computador como ferramenta de expressão e criação.
O currículo é “enxuto mas poderoso”, tratando de conceitos (Arte Contemporânea e Tecnologia, Metadesign, Interatividade) e tecnologia (Java, Processing, Max/MSP, Alice), dando suporte para o desenvolvimento de projetos pessoais em Design, Arquitetura, Artes Visuais e/ou Interação.
Esse é um projeto sobre o qual penso há bastante tempo: me parece que o domínio da programação será de extrema importância aos profissionais de Design do futuro, assim como uma oportuna ferramenta de expressão para os Artistas (pintura, gravura, música, poesia, etc.). Quando o prof. Túlio Marin ofereceu essa oportunidade, me pareceu que era o momento certo: há muita procura por essa forma de expressão, com resultados cada vez mais interessantes.
Obra de John Powers.
A proposta desse curso de extensão é tratar do imenso campo de atuação artística e profissional que vem sendo chamado de “práticas gerativas”, área que engloba a “arquitetura gerativa”, “design gerativo”, “música gerativa”, “arte gerativa”, “urbanismo gerativo”, “escultura gerativa”, e tantas outras formas de projeto e expressão que utilizem a programação para a criação “indireta” de objetos.
Como assim “indireta”?
Quando um Designer tradicional cria um objeto, sua relação com ele é “direta”. Utilizando meios tradicionais, como o lápis, caneta, régua, compasso, ou com meios digitais, como o CAD, programas de modelagem ou animação 3D, sua relação com o objeto que ele cria é imediata: ele determina diretamente a aparência e configuração geométrica do objeto.
As “práticas gerativas” trabalham de uma maneira diferente: o “designer gerativo” programa o computador para que este crie o objeto final. O designer ou artista manipula o programa de maneira que este componha a forma final. Em geral, há um espaço muito grande para experimentação, já que a criação do objeto é automatizada: o papel do designer ou artista é de “ajustar” o programa para que o resultado seja mais interessante, expressivo, ou atenda às necessidades que estipulou.
Portanto, o computador não é apenas uma ferramenta de desenho ou modelagem, mas um sistema de composição que permite a criação de objetos visuais, escultóricos, gráficos, arquitetônicos, urbanos, sonoros, poéticos, de extrema Complexidade.
As Práticas Gerativas, baseadas em programação experimental de computadores, é hoje em dia uma das áreas mais ativas de expressão e experimentação. Desde designers pioneiros, como John Maeda, que há pelo menos 15 anos divulga a programação como meio de expressão, que ele chama de “Design By Numbers”.
“Fireball”, de John Maeda: imagem realizada por programação em Post-Script!
Quem conhece o modo como trabalho o Metadesign já reconhece que estou falando do “Projeto Procedimental”: criar um procedimento que, por sua vez, irá criar o objeto em si.
Essa é uma abordagem muitíssimo poderosa e inovadora de criação. Ela permite desenvolver formas, processos, sistemas, edifícios, pinturas, gravuras, músicas, etc., de extrema complexidade a partir de esforços relativamente simples e econômicos.
Um exemplo de programação relacionada às práticas gerativas é o jogo Life, um “autômato celular” que apresenta comportamento emergente, e mesmo auto-organização. Há muitos exemplos de Life na Internet, como este. E muitos vídeos…
Ele prova como é possível criar um universo de entidades complexas a partir de pouquíssimas “instruções” (ou “comandos”): no caso do Life, são apenas 4 regras…
Outro rumo muito comum para a programação utilizada por Desginers e Artistas é o da “Visualização”: utilizar técnicas de programação para criar a representação visual de uma variedade de processos e/ou entidades. Um dos luminares dessa área é Ben Fry, que ajudou a criar e popularizar o ambiente de programação “Processing”.
“All Streets”, projeto de Ben Fry: a imagem resulta da visualização de 26 milhões ruas e estradas do território Norte-Americano. É a conexão de um banco de dados público (recenseamento governamental do sistema viário) e um sistema de visualização (programado por Fry).
Mas até mesmo Designers que não trabalham especificamente com programação, e suas possibilidades expressivas, estão adotando a lógica da “Emergência” como tema de trabalho. A exemplo dos irmãos Bouroullec, que trabalham com o desenho de peças simples que se acoplam de modo a construir tremenda complexidade, como o projeto “Algues”.
Ou seja, as “práticas gerativas” são um campo em expansão de criação e projeto, contando com um vasto e renovado repertório de expressão.
Espero ver muita gente lá no curso!
(A imagem no início desse post é um fractal composto por tetraedros, um experimento que fiz utilizando uma das técnicas gerativas mais comuns: a recursividade…)