1 – Em geral, não acho legal ficar reclamando. Mas ontem, indo pra casa, estava ouvindo a Kiss FM… O que irrita, naturalmente, com a predileção daqueles locutores em ficar vociferando bobagens, enquanto você aguarda tocar alguma música mais-ou-menos-legal…
(Parece que, quando dizem “Não toque no seu dial!”, é o sinal: “mude de estação”.)
Enfim, comentaram a triste morte, por câncer, do Rick Wright (Pink Floyd). Frisaram que, apesar do Wright não ter escrito muitas canções da banda, compôs algumas muito importantes. Ainda, comentaram que brigou constantemente com Roger Waters — mas não mencionaram o principal motivo desse antagonismo: a egomania deste último.
Para coroar a seqüência de superficialidades e comentários dispensáveis, dedicaram uma música em homenagem a Wright: “Another Brick in the Wall” — canção do auge da egomania de Waters, do disco que saiu quase à revelia do resto da banda e, dizem, causou a dissolução desta… Sendo que a canção era daquelas compostas pelo Waters sem nenhum input da banda… Brilhante!!
Seria como homenagear os 28 anos da morte do John Lennon tocando “The Long and Winding Road” (McCartney)…
2 – Recebi um catálogo da Pancrom, hoje. Como sempre, um showcase de tecnologia gráfica. Parabéns!
No entanto, mais uma instituição/empresa sucumbe ao que chamo de “citacionismo aleatório”: aquela citação de nomes, em geral, pouco conhecidos e com frases de efeito ou “sacadinhas”… No caso da revista da Pancrom, na primeira página, uma citação do Rush Limbaugh, radialista e comentarista de extrema direita norte-americano, famoso pela misoginia, preconceito, racismo, agressividade e desrespeito generalizado por minorias, divergências políticas e culturais. Em suma, um &*#@$%!!.
A frase é um descalabro.
3 – Há alguns anos, tinha notado a citação aleatória de Frank Zappa que a rede de restaurantes Braumeister insiste em publicar em seus jogos de sous plat. A tal citação insiste que: um país, para ser um “país de verdade”, tem que ter produção industrial de cerveja. A citação, fora de contexto, parece ser elogiosa à ancestral bebida. Mas Zappa queria aludir à cerveja como uma espécie de indutor ao colonialismo. Na origem da frase, sua autobiografia, Zappa dá continuidade à colocação quanto à importância da cerveja dizendo que os americanos enchem a cara do lúpulo, preenchem-se de entusiasmo alcóolico-patriótico, e decidem invadir algum país subdesenvolvido ou árabe (ou os dois). Zappa estava aludindo ao comportamento boçal do coletivo bêbado… E não às maravilhas da bebida… Zappa era abstêmio e não usava qualquer tipo de droga (só cigarro, que o matou de câncer). Era taxado de chato e preconceituoso.
O que tiramos disso: até mesmo Frank Zappa, descontextualizado, pode ser usado para vender cerveja…
Brilhante!!
Me parece que, nos três casos, o que norteia as colocações e/ou citações é aquela embromação que expressa a demanda de algum executivo ou departamento de marketing que precisa “encher linguiça” para não parecer que o veículo em questão “não tem nenhum conteúdo”. Mas é isso mesmo: nossa cultura está prenhe de vazios preenchidos, como espaços vazios nas paredes que precisam ser enxertados de palha ou espuma…