Estou relendo a biografia do Frank Zappa (The Real Frank Zappa Book), um dos três “Franks” que influenciaram profundamente minha vida… O segundo é Frank Lloyd Wright. E o terceiro é óbvio…

Tanto o Zappa como o Wright fizeram parte do meu primeiro ano na faculdade: lembro de terminar meu trabalho sobre o Wright, incluindo a famigerada maquete do Johnson Wax Company ao som do álbum Sheik Yerbouti, de Zappa.

O Zappa é uma influência tão importante na minha vida criativa por causa da atitude dele: desde a iconoclastia, até a extrema liberdade com que propunha de tudo, da música, passando pelos arranjos e pelo cinema, tecnologia, etc. (Algumas pessoas sabem porque me sinto um “agente duplo”…).

Bom, o nome do post é referência à proposta que faço: uma Teoria Geral do Design (Projeto) só poderia estar completa se levar em consideração o modo como o mundo ocidental, e parte do oriental, compreende a composição musical.

E aí, tenho uma discordância profunda com Zappa, na verdade com a vasta maioria dos compositores, músicos, e quase todos aqueles que vivem da e na música: Zappa insiste, como praticamente todos os compositores que conheço, que o que os músicos tocam, e você escuta, não é a música. Música é o que está escrito no papel… Ou seja, “música” é o conceito musical estabelecido enquanto uma seqüência de instruções codificadas em uma notação altamente formalizada e cifrada. A “performance” é apenas uma tentativa de alcançar a perfeição da música como notada na cifra.

Discordo. Mas é justamente essa afirmação de Zappa, que confirma tantas outras proferidas por outros músicos, de tantas maneiras diferentes, que permite que consideremos Música como Design. A música gradualmente abandona sua característica da Arte quando começa a ser tratada como composição, como notação de um conceito musical, e passa a significar apenas aquele conceito musical. Na verdade, é necessária toda uma purificação da concretude, e portanto de suas características instrinsecamente artísticas, da música para que ela se transforme em Design.

Creio que estamos defronte, inclusive, do ponto que permite a distinção entre Arte e Design, e da necessidade de se incluir o segundo como apenas um dos casos especiais da primeira.

Retomemos: em Design, a noção de finalidade é absolutamente proeminente, enquanto em Arte, essa noção é absolutamente relativizada pela concretude e sua expressão. No entanto, quando fala-se de um expressão “correta” para uma composição, está-se referindo a um plano abstrato de considerações que passam a fazer parte daquela obra. Quando esse plano abstrato é parte da obra, ou seja, pode ser tratado também como Arte, bom, temos Arte. Quando esse plano torna-se apenas uma ferramenta para a concretização de algo como “anotado”, ou seja, de acordo com uma norma de notação, bom, temos Design.

Bom, na verdade, essa conversa é bem mais longa. E creio que apenas com uma abordagem em “níveis de abstração”, própria do Metadesign, é possível compreender como boa parte da Arte contemporânea trafega entre o que seria propriamente Arte e propriamente Design.

Creio que como Zappa era concretamente e inteiramente um artista, apesar de todo o blá-blá-blá ideológico que fez parte de sua vida verborrágica, suas improvisações (que ele chamava de “composições instantâneas”) são prova da concretude da música enquanto performance. E, graças à “mágica das comunidades e da tecnologia das redes digitais banalizadas”, temos o que creio ser uma de suas maiores composições instantâneas no Youtube. Escutem “Rat Tomago”.

Música como Design

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