Acabei de ver o filme “Steve Jobs”. Bem melhor do que o “Jobs”. Pelo menos apresenta um ser humano mais interessante do que o “gênio que precisa ser arrogante para ser bem sucedido” do filme anterior.

No entanto, o que me chamou a atenção é a maneira como a turma diretor, roteirista, etc., conseguiram resumir a obsessão que o Jobs tinha com o “produto”, e com o controle de um objeto fechado, no qual a experiência do usuário poderia ser controlada de “cabo-a-rabo” (end-to-end). De fato, muita gente (ainda!) fala que a competência em design da Apple tem a ver com “produtinhos bonitinhos”, quando, na realidade, essa competência tem a ver com uma experiência do usuário coerente e bem-resolvida.

No entanto, a Apple é pioneira em uma coisa que chamo de “in-app-branding”, ou “in-OS-branding”, que a construção dessa experiência do usuário tendo como meta mais importante deixar esse usuário dependente do app ou do OS.  Ou seja, o que era, para o Jobs, uma tentativa de criar um “amplificador de mente” (nas palavras do Ted Nelson), coerente e bem resolvido, nas mãos da empresa que ele mesmo ajudou a conformar, essa abordagem tornou-se uma ferramenta de atração e adicção de usuários: uma boa experiência de uso, e que obriga a atualizações constantes, que impõe gradualmente a perda de performance do dispositivo, até que você se vê obrigado a comprar um novo aparelho, mais potente e moderno. Nada de interoperabilidade — o que, para Jobs, significava perder o controle do “produto”, e portanto de sua qualidade –, nada de controle do usuário sobre o sistema — coisa que os usuários de PC se vangloriam, sem de fato o terem (com exceção de nerds com muita paciência, ou programadores) –, e sempre a idéia de ter no produto a entidade mais importante da experiência do usuário, e tendo no software uma entidade crucial que está “presa” no produto/hardware.

Certamente, outras empresas, como a Google, procuram por destacar-se do produto — tanto no sentido de dispositivo/hardware, quanto no sentido do OS, aplicativo, ou outra peça identificável pelo usuário como software — e constituir um Ecossistema de interação, distribuído em uma miríade de interfaces, apps e OSs.

No entanto, o imperativo de retorno ao investimento impele que qualquer corporação de uma certa escala procure por implementar o “in-app-branding” ou o “in-OS-branding”, e construir uma experiência do usuário centrípeta, ou seja, que aponta para a própria empresa, e obriga o usuário a ficar cada vez mais dependente de algum produto ou serviço que é provido por uma única entidade. E, mesmo que o usuário possa escolher por trocar de plataforma, abandonando o app ou OS que o está “alienando”, ele tende a ser fiel à modalidade de interação com a qual está acostumado, especialmente, se ela for constituída como uma constelação de hardware e software que se articula de um modo “auto-referente”, contrário à interoperabilidade, e determinada de modo unidirecional (com definições ditadas da empresa para o usuário).

Me parece que o par “Micro-Produção + Micro-Consumo” — sobre o qual falo há anos — pode ser uma maneira de escapar de modo discreto, elegante e interessante dessa força centrípeta, da qual são reféns tanto os usuários, como as próprias empresas que a realizam (já que estão sempre sujeitas aos imperativos do “todo poderoso ROI”).

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Inovação, modelos, imagens e intenções.