No início de 2016, realizou-se na FAUUSP um evento muito interessante, do qual tive a oportunidade de contribuir para a organização e curadoria.

Trata-se do evento chamado ICHT 2016 — Imaginário: Construir e Habitar a Terra, organizado pelo Núcleo de Pesquisas NAWEB, coordenado por Artur Rozestraten. Veja o link para o caderno completo dos artigos.

Minha contribuição se deu com um ensaio a respeito dos elementos fundamentais para uma “outra ontologia” da cidade. Procurei articular um campo renovado de considerações quanto à cidade que escapem à ideia alastrada da cidade enquanto: (i) sede da civilização; (ii) “cenário” onde transcorre a vida urbana, construída pelo “melhor” que o urbanismo pode oferecer, ou seja, a ideia de que a cidade é fabricada por uma casta especializada dotada de conhecimento privilegiado sobre a urbanidade, a qual é a posteriori oferecida à população, que passivamente a habita; (iii) objeto, ou conjunto de objetos fixos na paisagem, o “campo imobiliário” que se entende como habitação, e cuja durabilidade no tempo é compreendida como aspecto fundamental da urbanidade; (iv) entidade cuja identidade é essa paisagem imobiliária, e que a vida social que ali transcorre seria irrevogavelmente submetida a essa entidade imóvel; (v) e a cidade como um campo de ação “demiúrgica”, de composição da paisagem por meio de uma visão de sobrevôo, descolada do cotidiano concreto da cidade.

Por “escapar” não entendo “negar”, e sim a operação da “fuga” em Deleuze, ou seja, procurar por outras paragens que alarguem o entendimento da cidade, e não a composição de um pano de fundo teórico que seja “melhor” do que o existente.

Neste sentido, recorro ao chamado “Pensamento Selvagem”, identificado por Lévi-Strauss, ampliado por Clastres, e adotado por Deleuze e Guattari: um pensamento não-finalista, ou seja, um pensamento que não se “faz para”, que se faz para si mesmo, como um processo de auto-poiésis, como diria Maturana. E me parece que o pensamento selvagem é ativado pelo uso popularizado da computação e telecomunicação pessoal, ideia similar ao “Homem Pós-Letrado” de Mcluhan. Esse campo urbano selvagem seria o domínio da Topologia, além da Topografia, em uma sobreposição que privilegia a primeira e questiona a segunda.

E usei esse texto como uma oportunidade de diálogo com outro texto, publicado no ano passado (2015), para o II Seminário Internacional das Artes e seus Territórios Sensíveis: Metodologias e Processos de Criação em Artes, chamado “Fratura Romântico-Positivista: um ensaio sobre a epistemologia da poiésis.” Neste outro artigo, questiono o “lugar epistemológico” da Arte, da Poiésis e da Estética, convidando ao entendimento do papel da Arte como o que chamo de “Mobilização Ontológica”, ou seja, a criação do novo, da inovação. O diálogo se dá exatamente por esse convite ao movimento e à mobilidade, entendidos como categoria fundamental, mas que é debelada pela racionalidade imobilizante das categorias rígidas e bem-construídas, em especial do Positivismo.

No sentido pragmático, o texto “Cidade Selvagem” oferece a sustentação teórica para boa parte do trabalho que venho realizando em urbanismo quanto à “Cidade Distribuída”, operando, novamente, além do entendimento conhecido como “Smart City” ou “Cidade Inteligente”, e procurando pela construção de sentido nas próprias comunidades.

Link para o PDF do artigo.

Cidade Selvagem: uma nova ontologia para a urbanidade translocal.